A LEI DE VIVER
Carlos Lopes
Há tanto quem goste de viver
Há tanto quem goste de fazer viver,
Há um mundo de sons, sabores e cores por absorver
Toques e perfumes a desfrutar em cada amanhecer
Animais, plantas e crianças a sorrir, brincar e crescer
Ar e água pura para beber
Amar, amar e muito amor receber
E, por tudo isso, meu Deus Te agradecer
Mas, oh ! equilíbrio divino, perfeição do ser
Mãe Natureza de grandioso poder
Que bom é te aceitar e entender
Porque sabes bem e mal fazer
Do mau, fazes o bom mais valer
E a soma de tudo para zero tender
Tu que contrastas florestas a arder
Com verdes pradarias de vista a perder
Furacões de tudo varrer
Com lindas cidades das cinzas a renascer
Tu que controlas aviões em torres a bater
E naves espaciais que fazem o universo pequeno parecer
Os burros e o saber
O Sol e o chover
O homem e a mulher
O morrer e o nascer
Tu que crias quem não gosta de viver
E prefere matar, morrer,
Sofrer,
Ou fazer sofrer
Me fazes respeitar quem queira fazer
Certo tipo de coisas, pois sei entender
Tenho em mim esse saber
Do caminho que cada um quer ou tem que percorrer
Por isso crer
Mesmo apesar de poder
Não quero com isso agora me entreter
Porque tenho outras coisas boas para fazer
Em vez de energia perder
A tentar leis promover
Ou a induzir e mexer
No querer
De quem não quer viver
Nem fazer viver
No arbítrio do nosso ser
Livres de tudo desejar e conceber
Qualquer lei que obrigue o "querer"
Efeito algum poderá alguma vez ter
Afinal sempre foi assim e sempre assim irá ser
Pois tudo se transforma sem nada se perder
Serás tu, meu Deus, o Lavoisier !?
Medalha de Ouro da Académie Européenne des Arts (Paris) – Out 2005